Dançando ela vinha sorridente,
trazendo uma rosa vermelha na mão,
seu olhar de feitiço me olha surpreendente,
Cigana linda que ilumina meu coração.
Tem na dança uma magia que encanta,
no olhar a luz do sol a brilhar,
Cigana Rosa com um jeito de criança,
Rosa Cigana que vem na Umbanda nos abençoar.
A linda de todas as lindas Ciganas tem o nome de Rosa. Tem esse
nome pois ela tem a beleza e o perfume dessa flor divina.
Ela trabalha na Umbanda na linha do Oriente trazendo ensinamentos,
paz, amor e caminhos abertos a quem lhe dedica uma oração com carinho
e fé.
Conta a lenda que Rosa era uma linda menina de pele morena,
sorriso largo e olhos brilhantes, que tinha nas mãos o poder de ver o
passado, presente e futuro das pessoas que buscavam os Ciganos para
esses fins.
Era dito que ela era muito meiga de voz aveludada, trazendo uma
condição de tranquilidade as pessoas que ficavam em sua volta. Tinha o
dom de espalhar a calmaria entre os que buscavam guerras, a saúde a
quem foi atacado pela peste, a alegria a quem era destinado a
tristeza. Essa era Rosa, a menina Cigana que admirava o brilho do Sol
e a luz de tom azulada e sensual da Lua.
Rosa era de um clã poderoso entre os povos Ciganos, tinha como
ponto alto o respeito que todos os povos tinham pelo monumental
trabalho de magias que eram somente ensinados e compartilhados dentro
de seu clã. e assim mesmo por poucos Ciganos, ou seja, todos que
tinham a benção de aprender as secretas magias daquele clã, eram
escolhidos minuciosamente pelos mais velhos, os donos dos segredos.
Ao chegar certa idade, o Cigano ou Cigana que era guardião ou
guardiã de certo segredo mágico, escolheria um substituto para ser
compartilhado o grande segredo único, e cada magia tinha seu protetor,
ninguém mais saberia, mesmo sendo guardião de outras magias secretas.
Mas essa regra foi quebrada com a Cigana Rosa. Jovem ainda, ela
demonstrava grandes dons em diversas formas de elevar muito mais
certos ensinamentos tradicionais sobre magias ciganas. E sendo assim
ela teve seu nome sugerido para ser a guardiã de sete dessas magias
secretas, ou seja, sete Ciganos desejavam que a linda Rosa fosse a
próxima guardiã de seus segredos mágicos.
Então ficou um impasse, qual seria e de qual Cigano seria ela a
guardiã.
Foi levado o fato ao Cigano Mor, o grande chefe do Clã, que
levaria o caso aos Ciganos conselheiros.
E assim foi feito. Após vários dias de debates, de perguntas e
respostas, de estudos aos dons de Rosa, decidiram por unanimidade que
ela tinha a perfeição e sabedoria de poder ficar como soberana
conhecedora dos sete segredos mágicos.
E como determinação do conselho Cigano e autorizado pelo Cigano
Mor, Rosa a partir desse dia seria a única Cigana a poder ter o
conhecimento das sete magias, que a foram reveladas um a um pelos
portadores de tais segredos.
Rosa usava todos esses segredos para a caridade dentro e fora dos
acampamentos Ciganos, tinha no seu coração a bondade e a seriedade de
demonstrar que o poder dos segredos eram para ser usado exclusivamente
para o bem, e é o que ela fez durante toda a sua vida terrena.
Rosa, com mais idade e maturidade, foi escolhida para ser a
guardiã das pequenas Ciganas, sendo responsável por ensinar,
demonstrar e cobrar as regras rígidas de seu clã.
Com essa responsabilidade com as Ciganinhas e com o conhecimento
de sete segredos mágicos ciganos, ela se tornou muito procurada e
idolatrada por todo povo de seu clã, e também por vários clãs de
várias regiões.
Mas ela não recebeu só a admiração e o respeito de todos. Recebia
ouro, joias, sedas, entre vários presentes vindos de todos os
Ciganos de todos os povos. E assim ela também conseguiu fazer nascer
sentimentos ruins por entre muitas Ciganas de outros clãs. Sentimentos
como o ódio, o rancor e principalmente a inveja.
Uma dessas Ciganas, uma jovem ambiciosa vinda de uma região
distante, que a pedido de seu pai ficara no clã onde nasceu a Cigana
Rosa, tinha muitos sentimentos desse tipo. E como Rosa era vista
dentro do clã como diferenciada nas questões sobre magias ciganas,
essa Cigana então planejou que tiraria Rosa do clã, faria ela ser
expulsa ou mesmo morta.
Ela tentou muitas coisas, e todas sem sucesso, e isso foi a
deixando cada vez mais rancorosa, com o ódio estampado nos olhos, a
inveja e a ambição de um dito poder, que ela imaginava que poderia ter
eliminando Rosa do convívio do clã cigano.
Com esses sentimentos ruins, foram abertas portas para espíritos
sem luz, e esses espíritos obsediavam a jovem Cigana dia após dia,
fazendo-lhe sofrer muito com a sua própria ambição e arrogância.
Ela tomada pela inveja e pela obsessão dos espíritos sem luz,
passou a observar cada passo, cada ação, cada gesto, cada palavra que
Rosa distribuía as Ciganas jovens e as Ciganas que estavam grávidas,
para que assim achasse algo que ela poderia utilizar contra a linda
Cigana dona dos poderes de magia.
Dentro dos clãs, as Ciganas grávidas ficavam separadas das outras,
não falavam com os homens, não era permitido a elas se socializarem,
enfim, tinham várias regras que deviam ser respeitadas, pois as Ciganas
quando grávidas eram consideradas "Marimé", ou seja, impuras, isso por
um período da gravidez até o batismo do recém nascido.
Como toda essa tradição era levada muito a sério, e com muita
cautela, as grávidas não deveriam dar a luz dentro das barracas do
acampamento, dentro dos transportes, tocar em coisas como utensílios e
roupas de outras pessoas, pois se caso acontecesse, tudo isso deveria
ser queimado, pois também era considerado impuro.
E essa foi a grande chance da perversa Cigana ambiciosa, pois a
esposa do Cigano Mor, estava grávida, e próximo de dar a luz.
Logicamente todos os cuidados estavam sendo tomados para que ela não
trouxesse a "impureza" para junto do clã, e a responsável para que
isso não acontecesse era a Cigana Rosa, que como sempre fazia com
todas as Ciganas em estado de gravidez.
O tempo passou e chegou o tão esperado dia do nascimento do
filho do Cigano Mor. E conforme a tradição, a Cigana grávida não
deveria ser vista por nenhum homem, nenhuma Cigana jovem ou as
crianças ciganas.
Rosa sabendo desses fatos e tradições, levou a grávida até uma
pequena cabana, para que ali ela pudesse dar a luz, e ao final do
acontecimento, a cabana e tudo mais utilizado para o nascimento do
novo membro do clã seriam queimados.
A criança nasceu sem maiores problemas, um menino forte e
saudável, que deixou a mãe e Rosa com lágrimas nos olhos pela emoção
do primeiro choro do ciganinho.
No clã de Rosa havia também uma tradição de logo após o
nascimento, e após saber o sexo da criança, deveria então fazer um
banho de ervas colhidas após o parto e antes da sétima hora de vida do
recém nascido. Essas ervas variavam de acordo com os detalhes do parto,
como o tempo demorado do nascimento, o tamanho do cordão umbilical,
entre outras coisas, que somente as responsáveis pela hora do parto
poderiam estabelecer, e designar cada tipo de erva sagrada.
E assim foi feito por Rosa, saindo logo após ao parto para ir em
busca das ervas, sendo obrigada a deixar a cigana que acabara de dar a
luz sozinha, pois até aquele momento era vista como impura aos olhos
do povo cigano.
A jovem mãe, por estar um tanto cansada adormece logo após a saída
de Rosa. E essa foi a chance da ambiciosa Cigana que aguardava o
momento de se vingar da senhora dos poderes mágicos dos Ciganos.
Com ajuda de um gadjo, no qual ela prometera algumas peças e
moedas de ouro, doparam e levaram a Cigana e seu filho para o centro
do acampamento, se aproveitando da ausência dos Ciganos, e lá a
deixaram com seu filho ao lado.
Ao chegarem de suas tarefas, Ciganos e Ciganas se desesperaram ao
ver a criança recém nascida e sua mãe, ditos impuros, podendo trazer
mau agouro, espíritos do mal, doenças e miséria, conforme era a lenda
entre os Ciganos.
O Cigano Mor, era o único que poderia tocar nela, por ser seu
esposo, e foi ele que a levou de volta a barraca na qual ela teria
dado a luz. Mas deveria voltar rapidamente para decidirem o que fazer
em relação aos maus espíritos, que pela tradição, estariam espalhados
por todo acampamento.
Após se reunirem, os Ciganos mais velhos decidiram que a criança e
sua mãe deveriam ser impostas a condição de impuros por sete anos, e
que nesse período deverias ser estabelecidos locais diferenciados para
que ambos vivessem, ou deixar para sempre o acampamento. Foi
estabelecido também que todos os Ciganos jamais voltassem a acampar
naquele lugar, que se tornou impuro. E que a Cigana Rosa, que era
responsável pelo parto, deveria, ou ser expulsa do clã (na visão de
alguns dos Ciganos), ou ser simplesmente morta (aos olhos de outros).
Foi dito ainda que todos os utensílios utilizados no parto, incluindo
a barraca e tudo que nela continha, deveriam ser queimados
imediatamente, para que não fosse espalhado o mau agouro das impurezas
da pobre Cigana, que agora era uma recém mãe, e vista como um problema
espiritual a ser combatido a todo custo.
A Cigana ambiciosa, se aproveitando de toda essas regras do mundo
nômade, caminhou até a barraca onde estaria havendo a reunião do
conselho Cigano, e lá adentrou sem pedir autorização. Aos berros,
demonstrando estar obsediada por um espírito negro, disse que era o
espírito da impureza, e que perseguiria aquele clã até o último
Cigano. E só partiria se fosse sacrificados os responsáveis por lhe
chamarem das profundezas.
Ao ouvirem as palavras vindas da Cigana ambiciosa, o conselho
Cigano então se decide em entregar a alma de Rosa para o sacrifício,
perguntando ao falso espírito como desejaria que fosse essa entrega.
Então foi dito:
"Hoje ao meio da noite, uma fogueira deverá ser acesa ao centro desse
acampamento. Nessa fogueira deverá estar a mulher Cigana que me trouxe
da escuridão. Ela deverá ser queimada viva."
Com gestos teatrais, a Cigana Ambiciosa simula um desmaio, que
deixa todos em sua volta atónitos, e decididos a fazer o que foi
mandado pelo falso espírito.
A noite chega, a fogueira e montada, Rosa é trazida para o centro
do acampamento. Ela é amarrada em um tronco no centro onde será acesa
a fogueira. Seus olhos lacrimejam, mas ela não se desespera, apenas
aguarda a decisão do conselho de acender as chamas. Ao longe a Cigana
ambiciosa observa tudo.
As chamas deverão ser acesas pelo Chefe dos Ciganos, que se
aproxima com uma tocha nas mãos.
No instante em que as chamas começam a ser acesas, o céu que antes
estava estrelado e com o brilho da Lua cheia, fica completamente
negro. Nuvens escuras se formam rapidamente sobre o acampamento, e nas
primeiras chamas incandescentes que brotam ao redor da Cigana Rosa, o
céu desmorona em uma tempestade imensa destruindo até a última brasa
acesa.
O Chefe Cigano virando-se para o conselho, diz que é um aviso dos
deuses, que não é para seguir com o sacrifício da Cigana. E nesse
momento ordenou que a soltassem das amarras.
Ao ver Rosa solta, a Cigana ambiciosa corre em sua direção com um
punhal na mão, para atacá-la. Ficando de frente a frente com Rosa, a
Cigana a olha com ódio nos olhos, dizendo-lhe que ela poderia ter
escapado da fogueira, mas não escaparia da morte, e que ela teria o
prazer de lhe matar na frente de todos.
Dizendo isso, a Cigana ambiciosa ergueu o punhal em forma de
ataque, olhou profundamente nos olhos de Rosa, que estava serena, sem
demonstrar nenhuma reação, a não ser segurar fortemente uma medalha
com a imagem de Santa Sara Kali que ela trazia nas mãos.
A Cigana que empunhava o punhal de aço, fez menção de atacar a
Cigana Rosa, mas nesse ataque uma força invisível levou sua mão
juntamente com o punhal ao próprio coração, lhe deferindo um golpe
certeiro, fazendo assim que ela mesmo tirasse a própria vida.
Rosa apenas olhava. O corpo da Cigana ambiciosa foi caindo com o
punhal cravado em seu coração. Todo povo Cigano em volta de toda a
cena, ficaram atônitos com tudo, observando o corpo inerte da Cigana
que desejava estar no lugar que não era de seu merecimento, que
desejava ser a Cigana que ela jamais seria.
Rosa voltou a ser a Cigana dona dos sete segredos ciganos. Ficou
em seu clã até seu desencarne muitos e muitos anos depois. Depois
desse acontecimento, os Ciganos desse clã entenderam que algumas
tradições ciganas deveriam virar apenas lendas, pois o maior perigo
dentro de um povo não é o medo daquilo que não se conhece, e sim a
precaução daquilo que sabemos que existe, como inveja, ambição e ódio.
Rosa após esse fato se tornou muito mais respeitada do que já era.
E dentre muitos povos Ciganos, ela foi a única mulher a entrar em um
conselho, e todos os homes respeitavam o que era dito por ela.
Hoje ela é uma Entidade bela trabalhadora da Umbanda. Sendo
respeitada pelas suas lições de caridade, coragem e fé.
Salve a Cigana Rosa!
Opchá Povo Cigano!